Nascida e criada em São Paulo, trabalhei por anos em empresas de ponta, americanas, e nunca achei que a desigualdade de gênero tivesse qualquer coisa a ver comigo.
Enquanto Business Partner e Analista de Remuneração, digo com propriedade: Nunca vi tabelas salariais diferenciadas por gênero, raça ou qualquer coisa do tipo...
Comecei a participar de discussões a respeito desse tema quando comecei a trabalhar com Indicadores de RH... aí, olhando para os dados “em massa”, a média salarial das mulheres de fato é mais baixa que a dos homens. “Ah, mas isso é porque estão incluindo cargos de liderança”, alguns me dizem e, 1) Não é (só) por isso – a média é inferior mesmo quando comparamos os valores por grupos de cargo e 2) A falta de representatividade na liderança também é um sintoma que devemos entender.
O ISE – Índice de Sustentabilidade Empresarial da BOVESPA em seu questionário pergunta: “Existe meta para ter mulheres e negros em cargos de liderança?”. Por anos fui defensora de não haver meta... mas será que não precisamos mesmo?
Alguns fatos e evidências me fizeram mudar de opinião, e queria contar aqui.
Luiza Helena Trajano empoderando mulheres
Participei de um jantar promovido pelo grupo Ellevate. Genuina, de personalidade forte e inspiradora com as cartas que escreve em momentos marcantes da sua vida e na de seus próximos, Luiza Helena trouxe a argumentação: devemos sim ter cota para garantir um espaço no mercado e na mesa de discussão. Visão também dada por Sandra Gioffi, executiva da Accenture, no Fórum de Dirigentes promovido pela @ABRH-SC em outubro do ano passado.
Hum... faz sentido... Ainda não faz sentido pra você? Que tal ver casos práticos?
Ela é culpada só por nascer mulher – uma história em entrevista
Entrevistando uma candidata para uma vaga em minha equipe, a candidata, do oeste do estado catarinense, respondendo à pergunta “qual a maior saia justa já teve no trabalho” lembra do caso em que ela, do RH, precisou demitir as mulheres da área operacional da empresa – que tinha atividade periculosa. A justificativa – obviamente não dada às empregadas – é de que mulheres podem vir a engravidar, onerando a empresa caso tenham que ser afastadas de suas atividades durante a gestação.
O comentário da entrevistada?
“E as contas que essa funcionária precisa pagar? E a comida que ela precisa colocar na mesa para seus filhos? Ela não tem o direito de trabalhar porque em algum momento pode vir a engravidar?”.
Um exercício, e tanto, de empatia... história sensível... ela chorou, eu chorei... e o rapaz que estava conosco na sala... não entendeu... meu comentário naquela sessão toda: “Desculpe, mas essa é uma história difícil de ouvir... ser culpada só porque nasceu mulher” – para mim, choque de realidade, GRANDE, muito grande!
É... Difícil ouvir esse tipo de história, mas não foi comigo que aconteceu... Até aqui, não mesmo, até que começamos a fazer Rodas de Conversa para o Mês da Mulher...
O feminismo e seus conceitos
Existem opiniões diversas sobre o uso do termo feminismo... mas, independente dessa opinião, o interessante é olhar para o que ele quer dizer e, mais importante ainda, entender os conceitos por trás do feminismo. Alguns deles, os mais diferentes para mim: Manterrupting, Mansplaining, Bropriating.
A explicação dos 3 não cabe aqui, mas vou falar sobre o Bropriating, e minha visão até aqui.
Na manhã de nossa 1ª Roda de Café, em que falaríamos sobre o mês da mulher, disse para minha sócia, Maysa Silveira: “Bropriating – quando um homem leva crédito ao se apropriar da idéia de uma mulher. Para mim, esse termo não faz sentido. Já tive uma idéia minha (e trabalho) apropriados por chefes mulheres, inclusive. Não faz sentido distinguir por gênero”.
Algumas horas depois, durante nossa Roda de Conversa, de repente tive a “sacada” – se é que podemos chamar assim... percebi de quantas e quantas reuniões participei... em quantas delas eu era a única mulher... mas, mais do que isso, lembrei das reuniões em que por mais de uma vez tentei contribuir com uma idéia. Na mesma reunião, falei o mesmo de formas diferentes, em momentos diferentes... nada... até que algum colega (homem – diga-se de passagem) dá exatamente a mesma idéia e tcha-ram, “Que idéia fantástica!!!”. Sim, isso aconteceu, isso acontece, e não foi só uma vez... e, pior: Eu nunca tinha me dado conta!!!!
O que uma boa conversa não faz?
Viu só o que uma boa conversa não faz? Já tenho falado e refletido sobre o tema do Empoderamento Feminino há algumas semanas para promovermos as discussões para a Roda de Conversa. Mesmo assim, em um momento de troca, rico, nos permite refletir mais um pouquinho, inclusive no papel de facilitadora.
Esse processo de percepção e descoberta só é possível quando facilitado por profissionais com fundamentação teórica e técnica suficiente para conduzir e acolher uma boa conversa.
Que tal experimentar?
Pronto para fazer a sua Transição de Carreira?
A Transição de Carreira é um processo, que não acontece do dia para a noite, de autoconhecimento, endendimento do mercado e conexão de contatos.
Se você está pronto para dar o primeiro passo nesse processo, entre em contato.
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Leia: Identidade
Texto originalmente escrito em Março/2019 em Roda de Conversa.
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